A permanência e a conclusão no ensino superior: O que dizem os Índios da Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná (UNICENTRO) – Brasil
DOI:
https://doi.org/10.14507/epaa.25.2426Palavras-chave:
permanência, conclusão, relações psicossociais, estudantes indígenas.Resumo
Este artigo se propôs a compreender, sob a perspectiva dos Ííndios, o processo de permanência e conclusão destes na Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná [UNICENTRO] - Brasil, considerando a experiência do Vestibular Específico para Povos Indígenas neste estado. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada com recorte temporal de 2002 a 2010, que se dispôs a ouvir as vozes (e silêncio) dos índios, ou seja, as dificuldades que estes tiveram para concluir o ensino superior. Os resultados apontaram que esse processo considerado como um “projeto de inclusão dos índios na universidade” neste espaço secular e privilegiado, restringe-se apenas ao acesso. Ou seja, o efeito psicossocial gerado pela ideia falsa que um programa suplementar de vagas gera na sociedade é inteiramente distorsivo, pois cria uma falsa noção de que a sociedade estaria tornando-se mais igualitária e justa, quando de fato o que acontece é um alargamento do grau de aceitação e conformismo para com as diferentes e sutis formas de injustiça e exploração da vida cotidiana. Os resultados apontaram que as estratégias para o ingresso no ensino superior de segmentos sociais e étnico-raciais discriminados são um caminho para minimizar o processo de exclusão que o Brasil enfrenta desde o descobrimento. Porém, parte-se do pressuposto que tais ações afirmativas devem ser complementadas com ações educacionais que fortaleçam o acesso ao conhecimento. A perspectiva das Ações Afirmativas na educação superior não deve apenas ampliar o acesso de negros, indígenas e egressos da escola pública, mas também sua permanência e integralização. Além disso, os resultados destacaram que para o índio, ingressar/permanecer/concluir uma universidade que possui como características centrais ser monolíngue, hierárquica, eurocêntrica ou norte-americocêntrica não é um processo simples, pois ocorrem as contradições existentes entre as intenções interculturais de uma lógica marcada pela exclusão, da competição e da seleção e a perspectiva de uma universidade pública e democrática que ainda não se constituiu intercultural. Porém, os vestibulares específicos possibilitaram reflexões de que mudanças são possíveis, com a inserção e fomento de processos novos e protagonismo de estudantes e lideranças indígenas.